Nutrição
Dieta rígida ou hábitos saudáveis? O que é melhor para uma criança com sobrepeso?
Por Sophie Deram, nutricionista
A história na edição de abril de Vogue nos EUA me perturba.
Uma mãe, Dara-Lynn Weiss, escreveu sobre a dieta rigorosa que ela impôs à sua filha de 7anos e descreveu também sua própria batalha de 30 anos com questões alimentares e com o seu peso (http://jezebel.com/5895602/mom-puts-7+year+old-on-a-diet-in-the-worst-vogue-article-ever)Weiss, que se orgulha de ter conseguido perder peso, disse que sua filha durante esta dieta "sempre reclamou estar com fome e pediu comida que ela não podia ter".
Fiquei indignada ao ler essa historia de uma mãe inconsciente, mas também pelo fato da revista ter publicado isso sem qualquer declaração de advertência vinda de um profissional de saúde. Tudo isso foi muito irresponsável e deste modo validou o que a mãe está fazendo.
A minha pergunta é: o que vai acontecer à sua filha a longo prazo?
É tudo o oposto ao que eu faria para ajudar essa criança com sobrepeso.
É importante incentivar alimentação saudável e mudança de estilo de vida sem dieta rígida, afastando deste jeito um risco futuro de transtorno alimentar.
Não importa uma perda de peso "bem sucedida". Só porque sua filha perdeu peso e não tem um transtorno alimentar agora não significa que isso não vai acontecer no futuro. Um dos principais fatores de risco para um transtorno alimentar é colocar uma criança numa dieta.
Então, o que os pais de uma criança com excesso de peso devem fazer?
O consenso internacional, baseado no estudo do metabolismo e comportamento de crianças com sobrepeso e obesidade, orienta claramente a não concentrar-se na balança e na perda de peso, mas sim nas mudanças de estilo de vida. Uma estabilização temporária de peso, aproveitando o crescimento da criança, é um sucesso que ajuda a criança a emagrecer. SEM DIETA!
A criança está crescendo e precisa de uma alimentação variada e rica, sem carências nutricionais. Uma dieta restritiva pode trazer deficiências que podem afetar o crescimento e desenvolvimento, assim como levar a um controle difícil da saciedade e causar transtornos do comportamento alimentar na adolescência.
Trabalhe com seus filhos sobre o conceito da saúde, dos hábitos saudáveis e evite criticá-los sobre o seu corpo ou falar deles de maneira negativa. O foco deve ser na saúde, e não na imagem.
Ensine o comer intuitivo. Ajude-os a desenvolver as habilidades para comer quando estão com fome e parar quando estão satisfeitos. Os resultados das pesquisas são claros. Quando as pessoas são ensinadas a reconhecer a fome inicial e reagir em conformidade, o peso tende a normalizar.
Concentre-se no ambiente saudável de toda a família na hora das refeições e não só o do seu filho com excesso de peso. O que é bom para a saúde é bom para a família inteira (sejam magros ou não). O papel dos pais é integrar sem terrorismo hábitos saudáveis com disciplina.
Evite regras alimentares rígidas. Quando há regras em casa em torno do comer, como: “nenhuma sobremesa” ou “sem açúcar”, as crianças podem criar uma supervalorização do alimento proibido e um aumento da vontade deste alimento. Quando a criança tem acesso a um alimento, ele é menos importante emocionalmente.
Ensine seus filhos a saborear a comida. Buscar uma experiência de prazer no ato de comer ajuda a entrar em equilíbrio e é uma forma menos ameaçadora de ter uma alimentação saudável.
NÃO se deixe distrair comendo. Isso significa que a mesa de jantar tem que estar em uma zona sem TV, laptops, iPads e celulares, tanto para as crianças quanto para os pais. Comer juntos no jantar melhora a qualidade nutricional da alimentação da criança e também diminui o risco de obesidade.
NÃO classifique os alimentos como "bom", "ruim" ou "proibido", pois não existem alimentos ruins ou que engordam quando consumidos em quantidades adequadas.
NÃO use a comida como uma recompensa. Procure outras maneiras para recompensar o bom comportamento. Ex: Se você falar que tem que comer todos os legumes para ter sobremesa, você está dando a mensagem de que os vegetais são tão horríveis que você tem que ser recompensado para comê-los.
SIM: confie na fome e saciedade dos seus filhos. O trabalho do pai é de ter disciplina em criar um ambiente saudável e oferecer o alimento; é a criança que decide o quanto ela vai comer.
SIM: deixe o lar ser um ambiente seguro e tranquilo que ajuda a diminuir o estresse da criança, e a ajuda a lidar com as questões de alimentação e peso de maneira tranquila e sem vergonha.
SIM: limite o tempo sedentário a uma ou duas horas de televisão/computador por dia. Faça da atividade física uma coisa de toda a família. Você não pode esperar que seu filho seja ativo se você não é ativo.
Faça do estilo de vida saudável um hábito para a família inteira!
Bon appétit!
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