Casa de vó
Nutrição

Casa de vó



Por Manoela Figueiredo, nutricionista

Fui ontem para a casa da minha mãe, buscar meu filho e minha sobrinha, que estavam passando uns dias com ela. Assim que eu cheguei, senti aquele cheirinho de casa de mãe. Imagino que seja um cheiro sempre familiar para cada pessoa, um cheiro que tem o poder de transformar o momento presente em memórias do passado. Cheiro de lareira, de perfume, de comida.

Era o que eu estava precisando, estava cansada. Minha mãe esquentou uma sopa e me deu uma taça de vinho, nada poderia ser melhor.

As crianças já estavam de pijama e com cara de sono, eram quase dez da noite, férias. Mas meu filho veio da cozinha tomando um picolé de abacaxi, contando que eles que tinham feito, e que era do abacaxi de verdade, muito fácil de fazer e que tinha ficado delicioso; emendou dizendo que também tinham feito brigadeiro e colocado nuns copinhos especiais da vovó, lindos e de vidro.

Crianças gostam de explorar, de pegar, de fazer, de experimentar e se interessam pela forma, pela cor, pelo cheiro e pela textura das coisas – por isso atividades que envolvem alimentos ajudam a desenvolver uma relação saudável com a comida. Tanto faz se a atividade foi com a fruta (abacaxi) ou com o doce (brigadeiro), pois o mais importante é estabelecer uma relação de intimidade com a cozinha, com o que tem dentro dela, com os utensílios – o que faz um liquidificador, ou como o fogo e o forno transformam os alimentos. É muito legal mostrar uma carne ou um peixe antes de ir ao forno – a textura, o cheiro e a aparência e depois de pronto, como aquela transformação acontece. 

Antes de me sentar para escrever, eu estava tomando café e meu filho chegou perto da mesa, olhou o que tinha e abriu um pote de castanha do Pará, pegou duas e já ia fechando a tampa quando minha sobrinha falou: “Ei, também quero!”, pegou logo três e saiu correndo para brincar.

Na casa da minha mãe é assim, tem comida de verdade, tem frutas, arroz, feijão, bolo, goiabada, macarrão, leite com chocolate, pão com manteiga e geleia, pipoca... Não tem comida especial para criança, não tem um monte de pacotes e embalagens coloridas, com personagens.

Fico aqui pensando como é bom entrar na casa da minha mãe e lembrar da minha infância na casa da minha avó, onde comíamos gemada de manhã e suspiro à tarde, com os ovos que íamos buscar no galinheiro atrás da casa, e perceber que aqui também não é mais só a casa da minha mãe, é uma casa de vó que continua ensinando as crianças a comerem comida! Comida de verdade e gostosa, e eu espero que um dia Antonio e Angelina também compartilhem dessas memórias.



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