Come(r)morar
Nutrição

Come(r)morar



Por Priscila Sato, nutricionista

Para quem é muito nostálgico, fim de ano é um “prato cheio” – com o perdão do trocadilho infame. Não só é o momento de pensar no ano que passou, mas nos leva também a reviver tradições e memórias, principalmente alimentares.

Quando eu era criança, todo ano era igual: meus pais ganhavam uma cesta de Natal no trabalho, que chegava em casa ainda fechada para ser disputada entre meu irmão e eu. Era a diversão da noite, abrir aquela caixa cheia de coisas diferentes para comer. E eram comidas incomuns em casa, que não comíamos em nenhuma outra época do ano. Isso acontecia não só porque eram típicas de Natal (vinham bolachas e outras coisas do tipo), mas porque ninguém de casa gostava daquelas coisas o suficiente para pensar em comer no dia a dia. Mas a bolacha que vinha dentro da caixa tinha um gosto especial!!!

Passávamos o Natal na casa dos meus avós no interior de São Paulo, era chegar na casa e sentir o aroma de comida se espalhando por todos os cômodos. E minha avó já ía anunciando o que tinha feito – havia sempre um prato que era especial para um de nós e o meu era “Catchupa”, um prato de Cabo Verde, país da África onde minha mãe nasceu. Depois de algumas horas chegavam minha tia e a família, meu primo se juntava a mim e ao meu irmão e brincávamos o dia todo.

Chegava a noite e estávamos loucos para abrir os presentes. Os homens tomavam cerveja e falavam que tínhamos que esperar até meia noite, antes disso precisávamos comer. Meu pai fatiava o peru para todo mundo e, ao redor da mesa, nem víamos o tempo passar, estávamos ocupados demais elogiando os pratos que todos haviam contribuído para preparar.

Vinte anos se passaram e as coisas não mudaram tanto. Dessa vez a cesta de Natal é do trabalho do meu irmão mais novo, ela ainda está fechada, mas estou fazendo um esforço enorme para não abri-la. Meu “priminho” tem quase dois metros de altura e passamos nossas tardes falando de faculdade e trabalho. Agora é meu irmão quem corta o peru e eu ajudo a cozinhar. Somos nós três que tomamos cerveja enquanto minha mãe pede para trocarmos os presentes logo porque ela já está com sono.

Se a comida já é sempre permeada de significados e memórias, que dirá no Natal? E em uma época com tanta fatura de preparações, em que tradicionalmente comemos um pouquinho a mais, me lembro do Jeffrey Steingarten falando sobre dois tipos de atitudes para com a comida:

1. “Estou me sentindo péssima hoje, minha pele está cheia de caroços, e mal consigo enxergar. Deve ter sido alguma coisa que eu comi”.

2. “Estou me sentindo leve como uma pluma hoje, meu pensamento está claro como água e tenho vontade de sorrir para o mundo! Teve ter sido alguma coisa que eu comi”.

Podemos pensar desses dois jeitos sobre nossa alimentação e, no entanto, me é tão mais frequente ouvir a primeira frase, ainda mais depois da ceia de Natal. Proponho que, neste ano, possamos curtir as preparações longas, o comer a mais, os momentos de recordações e as tradições familiares. Que nos permitamos comer mais, rir mais, trocar mais, beber mais... Assim, incorporamos muito mais do que o peru e o tender, mas as alegrias e significados desta festa.

Minha vó ligou ontem, já avisando que vai preparar a Catchupa nesse ano...



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