Nutrição
Uma nutricionista comportamental e sua paciente
Por Alessandra Fabbri, nutricionista
Comentei em outro post sobre o quanto ser uma nutricionista que pratica a nutrição comportamental pode ser difícil nos dias atuais (veja o post aqui). Hoje quero compartilhar com vocês que todo este trabalho pode ser muito gratificante também.
Atendo pacientes com transtornos alimentares e muitas vezes trabalhamos além da abordagem biológica convencional. Trabalhamos com o intuito de melhorar a relação dos pacientes com a comida e com o seu corpo, construindo um comer sem culpa, sem restrições e promovendo a aceitação corporal. Desafiador? Sem dúvida, mas possível!
O trecho a seguir foi escrito por uma paciente com bulimia nervosa que está melhor e estável do quadro, mas ainda em recuperação. Ela autorizou a publicação e por questões éticas preservarei sua identidade. Neste momento, estamos trabalhando a aceitação corporal e ela escreveu uma redação para o seu corpo:
“Alguns podem dizer que amor e ódio andam juntos, acho que podemos dizer que concordamos com isso. Te submeti a todo tipo de coisa, algumas extremas e outras nem tanto (...). Idas e vindas com oscilações, nunca soubemos o que era normal ou adequado, já fomos de todas as formas, tamanhos, já comemos de tudo e de nada. Já nos amamos, mas infelizmente passei mais tempo te odiando, transformando tudo de ruim que acontece na minha vida em comida ou na falta dela. Te deixei bem confuso por anos e ainda me sentia traída por cada reação sua, te odiava quando você tinha fome, quando você não era manequim 36. Quando pesamos 70kg, queria 65-60kg, quando estávamos com 50kg, eu chorava e te odiava porque queria entrar na “casinha” dos 40kg. Hoje já não sabemos mais qual é nossa massa (peso corporal) e simplesmente não importa, pois não vai ser esse (espero que nunca mais) o motivo de eu te torturar, de passar fome, de não dormir, de não ser feliz. Ainda de forma cautelosa, comemos alguns legumes felizes e também comemos um belo sorvete felizes também, não atacamos mais os alimentos, não nos torturamos cruelmente mais. Desculpa por tudo que já te fiz passar, por todas as vezes que te torturei, todas as vezes que eu fiz você perder seu equilíbrio, que não te dei valor, que não soube te enxergar. Obrigada por se recuperar, obrigada por ser forte, por continuar vivo, por permitir que eu melhorasse e por ser como você tem que ser. Obrigada por ser exatamente como você é.”
A mensagem que eu gostaria de deixar é que é possível melhorar estas relações (com o corpo e com a comida), é possível se recuperar do transtorno alimentar, é possível ter uma vida melhor e se tornar mais satisfeito com seu próprio corpo. Não estou dizendo que é simples ou fácil, mas que é possível, principalmente quando temos profissionais qualificados utilizando técnicas adequadas para isso.
Quero deixar aqui meu agradecimento a esta paciente que me permitiu ajudá-la, que me deixa orgulhosa e satisfeita ao cumprir meu trabalho e que com este texto, incentivará outros profissionais e pacientes.
Até o próximo post!
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