É motivadora. É instigante. Determina e condiciona muitas das atitudes tomadas pelo bicho homem.
Mamãe Natureza, como toda boa mãe, gostaria quer fossemos felizes. Para tanto, nos ofereceu já de fábrica, o dispositivo que nos faz ir atrás daquilo que nos deixa felizes (ou nos dá prazer). E, de modo bastante perspicaz, o gatilho é a própria felicidade (o prazer, no caso).
Quando isso está descompassado, surgem os vícios.
A senhora que devora uma caixa de bombom em cada uma de suas frustrações... O usuário de drogas que não consegue ver-se livre delas... O praticante de corrida que, mesmo com febre, ou sob a tempestade, segue com sua planilha de treinos... E por aí vai...
Guardadas as devidas proporções, todos estão motivados pela sensação de bem-se-sentir da dopamina.
Pois bem.
O vício, na minha leitura, é aquilo que não apenas é "preciso fazer", mas também que atrapalha a vida de quem o percebe como
necessidade absoluta. O condicionamento orgânico é o início, aquilo que leva ao "preciso fazer". A sua metamorfose em "necessidade absoluta" é, por sua vez, a exacerbação do gatilho da Mamãe Natureza, que se manifesta nas variadas esferas do homem: emocional, comportamental, psicológica, afetiva... tudo, inclusive, bioquímica.
Neste ponto, quanto toco na
necessidade absoluta, não consigo me privar de considerar a construção do corpo como um vício. Que, enquanto objetivo, permeia mentes e almas; Enquanto assunto, impera nos relacionamentos e nos diálogos; Enquanto conduta delineia vidas, e; Enquanto ideal, decide caminhos.
Se todo vício é o que se torna necessidade, que coordena nossas ações e atrapalha a nossa vida, creio que não seja exagero afirmar que sofremos com mais um vício contemporâneo: a-busca-do-corpo-perfeito.