Beleza aos pedaços...
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Beleza aos pedaços...


A beleza é uma qualidade naturalmente feminina, diz certo filósofo-autor, que muito respeito. 

Para ele, como contra ponto ao sublime do homem, impera a beleza da mulher.

Com todas suas variações vivenciadas no correr dos anos, e na sua natureza social e cultural, que lhe trás permeabilidade entre as etnias, a beleza feminina segue como atributo de tudo aquilo que, ainda segundo o autor, é bom. (Houve, nas considerações sobre o tema, a simbiótica relação de que o belo é aquilo que é bom.) 

Mais adiante na linha histórica, uma estudiosa-autora que também muito respeito, alavancou estudos sobre o gênero e sua aparição midiática. Através deles, notou uma mulher construída por seus pedaços (barrigas, pernas, lábios, cabelos, olhos...) que, por sua vez, montam o quebra-cabeça de um ideal de beleza. Aquela mesma beleza, "naturalmente" mais próxima à mulher. 

O alerta da autora segue no sentido de que, quando objetificada, a mulher passa a reunir atributos para sua comercialização (aqui no sentido de sua imagem) e, pode ser que, mediante ao conceito construído sobre seu corpo, seja considerada algo e não alguém.

Ainda segundo seus estudos, a autora percebe que este seria o gatilho da violência contra a mulher, do desrespeito no seu trato, e, em uma lente mais ampliada, dos distúrbios de comportamento (relacionado ao consumo - e ao não consumo - alimentar e à prática de atividade física extenuante, ou como necessidade). 

Pois bem, somos muito machistas. Mesmo quem não tem a menor intenção de ser. Mesmo aquele que nunca parou para pensar a respeito. 
E, muito embora eu compactue da premissa de que toda generalização é estúpida, nosso machismo está tão solenemente enraizado que não o notamos.

Não é que é absolutamente normal um par de seios enquadrado em um decote ser exibido para vender cerveja? Perfume? Chocolate? Hidratante para a pele? 

O que seria uma revista feminina, que não um catálogo de consumo de um corpo? 

O queria uma revista masculina, que não a apresentação do modelo construído (mais do que nunca projetado para o prazer do outro)? 

Na relação de belo e bom do primeiro autor (Umberto Eco), somada ao modo de interpretação do corpo da mulher da segunda autora (Jean Kilbourne), me parece que a busca da beleza segue um ideal distorcido - não somente do ponto de vista da suas dimensões e contornos, pois isso já é óbvio - mas, sobretudo, de comportamento e valoração da mulher. 

Não estou atirando pedras... E o julgamento das decisões alheias não faz parte do meu pensamento... 

Tenho aqui, a singela pretensão de compartilhar uma angústia que sinto a cada linda mulher que quer ficar mais magra; a cada jovem cheia de vida que não sai para uma festa para não "estragar" a dieta; a cada criança que é chamada de "gorda" como xingamento e come o bombom escondido, exprimindo sua ansiedade; a cada dona de casa que quer ser "mais bonita" para seu esposo e  sente culpa quando come algo "que engorda"; a cada uma de nós que, preocupadas com a beleza, fazem de seus corpos bens de consumo e nós sentimos frustadas por não atingir os contornos projetados no imaginário social, com o cruel requinte do potoshop. 

Um ideal naturalizado que se torna motivo de ser e estar. De termina o comportamento e estabelece as bases da felicidade.









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