Nutrição
Especial para os profissionais da saúde: peso, obesidade e tratamento
Por Cezar Vicente Jr., nutricionista
Nossa cultura está totalmente obcecada pelo corpo. Revistas, TV, novelas, filmes, familiares, companheiros de trabalho, amigos... As mensagens dizem de uma maneira disfarçada: “gordura é do mal”.
Essa lipofobia, ou gordurofobia como eu gosto de chamar, faz com que as pessoas queiram se livrar do mal, a gordura. Consequentemente, gera um pensamento coletivo de que vale qualquer coisa pra perder peso, e que perder peso é sempre bom em todos os sentidos. Muitas profissionais e pessoas acham isso bom, mas será que realmente é?
Um estudo (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1835716) entrevistou pacientes que fizeram cirurgia bariátrica (conhecidas genericamente como ‘cirurgias de redução de estômago’) e que perderam pelo menos 45kg em um período de 3 anos. Eles foram questionados sobre quais situações preferiam a voltarem a ser obesos: todos eles responderam que preferiam ser surdos ou disléxicos ou diabéticos ou terem doenças cardiovasculares a voltarem a ser obesos; 9 de cada 10 pacientes responderam que preferiam amputar uma perna e 8 de cada 10 preferiam ser totalmente cegos a serem obesos (!!!). Esse estudo mostra claramente a distorção entre peso e a saúde. Com esse medo imenso da gordura, imagine o que essas pessoas são capazes de fazer para evitar qualquer ganho de peso. Some a isso o fato de que o reganho de peso (parcial ou até mesmo total) é esperado nesses pacientes...
Vamos fazer um exercício: amplie um pouco a visão desse estudo e pense nas pessoas que você conhece. Imagine o que cada uma delas seria capaz de fazer por medo, apenas medo, de engordar. Contar calorias, pular refeições, comer tão pouco a ponto de ficar com fome, comer só alimentos diet / light, malhar para queimar as calorias que consumiu, tomar todos os "novos" produtos para emagrecer, deixar de comer seus alimentos preferidos, dormir para não comer...? Isso é ter saúde?
Tenho certeza que esse não é o resultado que ninguém que está cuidando da saúde das pessoas deseja. Infelizmente, esse é apenas um dos efeitos colaterais da Guerra Contra a Obesidade. Mas, aqui vai A boa notícia: há como melhorar a saúde sem fazer as pessoas se sentirem mal, fracassadas, feias, culpadas, gulosas! Elas são conhecidas genericamente como abordagens Health at Every Size®. Em português seria algo como Saúde em Todos os Tamanhos.
Em geral, elas focam em alimentação saudável e gostosa, em atividades físicas prazerosas, em aceitação corporal. Nessas abordagens, o peso é neutro (não é bom, nem ruim), é apenas mais um dado.
E o que os estudos dizem sobre isso? Menor taxa de abandono ao tratamento, manutenção dos hábitos saudáveis por mais tempo, melhora do bem-estar, melhora de sintomas depressivos e ansiosos, diminuição do "efeito sanfona", redução do ódio ao corpo, melhora nos parâmetros fisiológicos (colesterol, glicemia, pressão arterial...). (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21261939)
Algumas dicas para começar a ser um profissional Health at Every Size (HAES®):
• Admita que a obesidade é uma questão complexa e muito maior que “a quantidade de calorias ingeridas é maior do que quantidade de calorias gasta”;
• Não julgue a saúde de uma pessoa pelo seu peso, respeite os diferentes tipos de corpos;
• Promova o comer de maneira que balanceie as necessidades nutricionais individuais, fome, saciedade, apetite e prazer;
• Promova atividades físicas individualmente apropriadas, prazerosas, que melhorem a qualidade de vida, ao invés de exercícios com o objetivo de perder peso;
• Estude também sobre o estigma da obesidade, sobre questões psicológicas, sociais e antropológicas da alimentação (mesmo sem ser psicólogo, sociólogo e antropólogo).
Acredito que mesmo sem aplicar esses conceitos, apenas refletir sobre eles já é um importante passo!
*Health At Every Size is a registered trademark of the Association for Size Diversity and Health and used with permission.
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