Comer Emocional (Parte 2) - Gatilhos emocionais para comer
Nutrição

Comer Emocional (Parte 2) - Gatilhos emocionais para comer


Por Cezar Vicente Jr, nutricionista

Em um outro post discuti um pouco sobre o universo do comer emocional. A ideia do primeiro post era situar sobre esse mundo e entender alguns possíveis comportamentos derivados de sentimentos e situações, do ponto de vista da alimentação.

Vamos olhar novamente para o comer emocional, mas alguns passos anteriores, ou seja, o que pode “ativar” ou “intensificar” o comer emocional. Lembrando que: (a) comer por questões emocionais per se não é errado; (b) dependendo da intensidade e frequência que o comer emocional assume pode se tornar um problema.


Seguem alguns exemplos de situações que desencadeiam o comer emocional:

Excitação


Quando a vida está chata a comida pode ser usada para injetar animação nela. Por exemplo, cozinhar uma receita especial ou nova é algo que gera grande entusiasmo em algumas pessoas. Outro exemplo é fazer uma reserva / ir a algum restaurante que sempre quis ir/gosta. Esses dois exemplos, podem ser grandes eventos na vida de algumas pessoas e comida se tornar central.

Fazer dieta frequentemente criar um senso de excitação muito forte, esperança. Por um novo corpo e uma nova vida. Esse é um dos motivos pelos quais as dietas para perda de peso / ganho de massa muscular são sempre tão ostentadas e desejadas. Quando a dieta acaba o senso de excitação é substituído por desespero, que por sua vez é substituído por uma nova excitação: comprar ‘alimentos proibidos’ em grande quantidade.

Frustração e Raiva

Ter uma briga no trânsito ou uma discussão no trabalho podem deixar uma pessoa realmente brava. A raiva / frustração podem ser 'descontadas' na comida. Alguns alimentos são peculiarmente mais consumidos uma vez que o comer emocional é acionado por esses gatilhos. Para algumas pessoas, morder e quebrar o alimento ajuda a descarregar esses sentimentos, por isso os alimentos mais relacionados são os crocantes e duros. Esse gatilho geralmente está relacionado à graus de intensidade do comer emocional mais prejudiciais. 

Tédio e Procrastinação
 

O tédio é um dos sentimentos mais comuns que serve como gatilho para o comer emocional. É um jeito de preencher o tempo e/ou de adiar uma tarefa que precisa ser feita. Para algumas pessoas o fato de procurar por comida e comê-la espanta o tédio. 

Alguns exemplos de situações práticas: estar em casa em um sábado à noite e não ter planejado nada para esse momento; esperando por uma ligação importante; assistir TV domingo à tarde sem nada pra fazer; arrumar toda a casa e a tarde não ter ‘nada para fazer’, ter passado o dia inteiro fazendo um trabalho sentado no computador, etc. 

Percebo que a cada 10 pessoas que me contam que ‘comem porque são ansiosas’ pelo menos 6 estão falando sobre tédio. Esse exemplo fica claro especialmente em crianças que ‘brincam pouco’ e ‘comem muito’. Literalmente uma falta e que a comida tenta preencher.

Recompensa e Suborno 

Prometer a si mesmo, ou a outro, que irá comer algo que gosta muito após realizar uma tarefa especialmente chata - “eu mereço comer aquilo, especialmente hoje”. O caso típico do pai/mãe que trabalham e que sentem necessidade de trazer um doce para o filho para 'compensar' sua ausência. Alguns exemplos:  Um dia extenuante de trabalho e a pessoa premia a si própria com uma comida especialmente gostosa / proibida para ela; A criança não come e a mãe diz que se ela comer toda a comida do prato vai ganhar mais um pedaço de pudim.

Acalmar

A comida pode realmente acalmar. Imagine que você está numa situação difícil nesse momento. Entre (a) ir a cozinha e pegar alguns chocolates/bolachas  OU (b) sentar no sofá e experimentar todas as sensações ruins que estão borbulhando dentro de você, é fácil imaginar qual a situação mais apelativa. Especialmente se esse chocolate/bolachas o fizerem lembrar de um momento ou época em que a vida era menos complicada e mais prazerosa.

Amor

Vários comerciais de alimentos relacionam a comida com uma forma de demonstrar afeto. Não é à toa que isso também faz parte do nosso rol de emoções relacionadas à comida. Um exemplo emblemático são os chocolates para o dia dos namorados. Outro exemplo clássico é dar coisas que o seu filho gosta muito de comer para demonstrar o quanto ama ele. 

Algumas pessoas têm muita dificuldade em negar alguma comida, por percebê-la como símbolo de afeto. Para elas, por exemplo, negar o bolo de sobremesa na casa da vizinha, não é uma opção (mesmo se estiver muito cheia ou não gostar do bolo).

Existem muitos outros gatilhos emocionais para o comer. Esses são apenas alguns deles!

É importante ressaltar que a maioria das pessoas não se dá conta que gatilhos emocionais influenciam sobre a sua alimentação. Elas acham que comem porque “tem olho grande”, “são gulosas”, “porque é muito gostoso”, etc. Repito: se dar conta é um passo muito importante!

Entretanto perceber e nomear alguns sentimentos/sensações não é uma tarefa simples para a maioria das pessoas. Consultar um profissional da psicologia para ajudar a reconhecê-los pode ser uma boa estratégia para ajudar a lidar com esses sentimentos.

O papel do nutricionista também é essencial ajudando a distinguir estes da fome física (e o que fazer com ela). A reação mais comuns das pessoas (e também de muitos profissionais) quando descobrem esse tema é achar que tudo é emocional. Na verdade não é! A fome física existe e não pode ser ignorada! Ignorá-la (ou não saber diferenciar, achar que é emocional) pode trazer mais frustração e consequências físicas e psicológicas (Leia mais).

Que tal começar a prestar atenção em como você lida com a comida?

Bibliografia:
Tribole E, Resch E. Intuitive Eating. 3rd ed. New York: St. Martin´s Griffin. 2012.
http://www.intuitiveeating.org/




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