Alimentação Saudável: A importância da maneira como se come
Nutrição

Alimentação Saudável: A importância da maneira como se come


Por Alessandra Fabri - Nutricionista



Podemos perceber que a ciência da Nutrição costumeiramente é centrada no que chamamos de visão biológica da alimentação, ou seja, ela é focada no alimento, no nutriente; portanto, ela analisa a composição química dos alimentos e seus respectivos papéis no nosso organismo. Sabemos que para se ter uma alimentação saudável, precisamos ter uma quantidade e qualidade adequada dos alimentos, uma boa variedade alimentar e um equilíbrio entre os grupos alimentares. Mas... será que é só isso?

Na verdade, a nossa relação com os alimentos é muito mais complexa que isso. Alimentação é também um conjunto de símbolos, significados e crenças que vão além de seu valor nutricional. É fácil de entender o que estou falando; quem nunca se sentiu aliviado e/ou confortado em comer um chocolate depois daquele dia estressante no trabalho? Ou quem nunca sentiu saudades de uma pessoa importante, ao comer um prato gostoso como só “aquela pessoa” fazia? Cada comida, cada alimento, tem um significado especial e diferente para cada pessoa; estes significados estão relacionados com as suas próprias experiências e por isso, cada pessoa o consome de uma determinada maneira. Não estou falando somente do que comemos, mas também de como comemos.

Quando focamos de maneira exagerada no nutriente, tendemos a desconsiderar todo o restante e para se ter uma boa alimentação todos estes aspectos devem ser considerados.

Vivemos hoje um grande paradoxo alimentar: por um lado nunca se falou tanto sobre nutrição, alimentação, magreza, o que se pode ou não comer e nem tivemos tantos alimentos “saudáveis” disponíveis no mercado, como temos atualmente. Por outro lado, o número de obesos continua aumentando no mundo inteiro e com eles os casos de transtornos alimentares também. Será coincidência? Ainda falando sobre paradoxos, vários estudos têm comparado a alimentação entre norte-americanos e franceses, pois os pesquisadores observaram que apesar de comerem a mesma quantidade de gordura, os norte-americanos têm muito mais obesos em sua população e desenvolvem mais doenças cardiovasculares que os franceses. Por quê?

As pesquisas atuais têm mostrado que estas respostas podem estar relacionadas à maneira como eles se alimentam. Por exemplo, um destes estudos mostrou que os norte-americanos associaram a alimentação à saúde física e ao comer pela busca de uma “dieta ideal”, que afaste as doenças. Já os franceses associaram à alimentação aos momentos de prazer e de sociabilização. Outro estudo também observou que os norte-americanos comem mais rápido e geralmente eles estão fazendo outras atividades enquanto comem como assistir televisão e trabalhar, enquanto os franceses comem devagar e aproveitam a sua comida. Isso nos mostra, que observar somente o que estamos comendo, não é suficiente.

Precisamos compreender que outros aspectos envolvem a nossa alimentação e devem ser considerados; entender ainda, que o ato de comer deve também estar relacionado aos momentos de prazer. Como diria BEUMONT em 1990 “Comer adequadamente não está relacionado apenas com a manutenção da saúde, mas também com um comportamento socialmente aceitável, flexível e que traga satisfação.”


Referências:
PHILIPPI ST. Alimentação saudavel e a piramide dos alimentos. In: PHILIPPI, ST. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. Barueri: Manole, 2008.
GERMOV J, WILLIANS L. A sociology of food and nutrition. Oxford: Oxford, 1999.
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ROZIN P, FISCHLER C, SHIELDS C et al. Attitudes towards large number of choices in the food domain: a cross-cultural study of five countries in Europe an the USA. Appetite, v 46, p 304-308, 2006.
SCAGLIUSI F, ALVARENGA M, PHILIPPI S. Conceituação de alimentação saudável sob perspectiva biopsicosocial. In: ALVARENGA M, SCAGLIUSI F, PHILLIPI ST. Nutrição e transtornos alimentares: Avaliação e tratamento. Barueri: Manole, 2011.
BEUMONT PJV, O´CONNOR M. LENNERTS W, et al. Nutritional counseling in the treatment  of bulimia. In: FICHER MM. Bulimia Nervosa: basic research, diagnosis and therapy. England: John Wiley & Sons, 1990; p309-19.



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