Nutrição

A mentalidade de dieta

Por Cezar Vicente Jr.- Nutricionista

Você conhece alguma amiga(o) ou familiar que vive ‘de dieta’? Aquela pessoa que sempre sabe as dietas do momento ou produtos/alimentos/suplementos que acabaram de surgir? Aquela que sempre está querendo emagrecer ou bombar? Aquela pessoa que sempre começa a puxar o papo sobre o que engorda ou o que emagrece ou que faz ficar mais definido?

Muito provavelmente você respondeu ‘sim’, para uma ou todas as perguntas. Isso significa que você conhece pessoas com mentalidade de dieta.

Mentalidade de dieta é um conjunto de ideias que tem o objetivo de controle da alimentação, podendo ou não ser acompanhadas de ações. Comumente o objetivo desse controle é a modificação ou manutenção do peso/corpo, mas também é comum que seja para o controle de alguma doença ligada com a alimentação.

Esse pensamento tem 4 características básicas:

µ Dicotomia

Diz que os alimentos são claramente divididos em dois grupos: os que fazem bem (emagrecem) e os que fazem mal (engordam). Não importando a frequência, quantidade, o restante da alimentação, quem é a pessoa que está comendo. Exemplo: Brigadeiro faz mal, Alface faz bem; Pão engorda, tomate emagrece; Clara de ovo cria músculo, açúcar desenvolve diabetes.

µ Julgamento do valor pessoal por meio do que se come

Diz que as pessoas que comem apenas os ‘alimentos bons’ são pessoas melhores do que as pessoas que comem ‘alimentos ruins’. Por exemplo, quem está com vontade de comer um chocolate e come um punhado de mix de castanhas é mais inteligente porque faz melhores escolhas.

µ Julgamento do valor pessoal por meio do peso (ou perda dele)

Diz que a pessoa é melhor ou pior dependendo do seu peso. Quanto mais magra melhor e quanto mais gorda pior. Exemplo: Aquela pessoa gordinha é uma fracassada mesmo, não tem força de vontade nem pra emagrecer; Olha como ele está sarado, com certeza esse ele é muito disciplinado!

µ Condicionar a realização de alguma atividade com atingir um determinado peso/corpo

Diz que quando emagrecer/atingir um corpo X tudo na sua vida vai mudar para melhor. A grande maioria das vezes essas expectativas não irreais. Exemplo: Quando eu emagrecer irei arranjar um bom emprego; Quando eu ganhar mais músculos finalmente vou poder ir à praia.

E existe problema em ter a mentalidade de dieta rondando sua cabeça?

SIM! Veja alguns deles:

Estar ‘de dieta’ estimula o desejo por comer os alimentos que não são permitidos. Com o tempo, meu sentimento de privação vai aumentando gradativamente até que eu vou lá e como. Quando eu como sinto uma grande culpa por ter comido algo proibido, e então eu volto para a dieta... E novamente acontece tudo de novo.

Cometer exageros ou até mesmo compulsões alimentares pelos ‘alimentos ruins’.

Ter pouca confiança em si mesmo quando se deparar com a comida (especialmente se essa comida é alguma que não está na lista da dieta).

Sentir que não é digno de comer determinados alimentos, mesmo que em situação especial, por conta do peso. Por exemplo: estou acima do peso, não posso comer coxinha, mesmo estando nessa festa, eu tenho que ser forte!

Despedida alimentar pré-dieta. Pensar que estragou a dieta por comer um alimento não-permitido, faz com que coma excessivamente hoje alimentos proibidos, para voltar à dieta amanhã (ou segunda-feira).

Dificulta a escuta dos sinais internos de fome e da saciedade, por sempre estar seguindo uma regra externa (uma dieta).

Torna o metabolismo um expert em poupar energia que seria gasta, por fazer restrições alimentares.

Desenvolvimento/Manutenção de transtornos alimentares, em pessoas com predisposição genética. Mesmo em pessoas sem predisposição, favorece uma condição chamada comer transtornado (que eu chamo de “quase transtorno alimentar”).

Torna você mais e mais inseguro com relação ao seu corpo achando que ele precisa ser perfeito, ou melhor, e um determinado jeito. Cada vez que você se aproximar dessa perfeição ou ‘nova perfeição’, ainda mais impossível de ser atingida, e assim por diante.

Por isso rejeite mentalidade de dieta!

Conheça e reconheça em sua história o dano causado pelas dietas – fisiológicos, emocionais e sociais.
Fique atento aos pensamentos e traços que mentalidade de dieta. Esqueça as palavras disciplina, falha, força de vontade e obediência quando se referir a sua alimentação e ao seu corpo.
Livre-se do arsenal da dieta: cardápios prontos, listas de alimentos proibidos e permitidos, balanças, revistas de dieta, papos sobre quem engordou ou emagreceu..
Procure ajuda! Se você sentir que esse pensamento está mais forte que você (sim, às vezes pode ser muito difícil lidar com ele) procure ajuda de um profissional especializado.

Lembre-se: Cuidar da sua alimentação NÃO É fazer dieta. Ninguém nasceu para ser escravo de um pensamento! Seja livre! Cuidar da sua saúde não é ser escravo dela! Acredite, isso é possível!

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