Nutrição
Programas de prevenção contra obesidade infantil podem causar transtornos alimentares?
Por Sophie Deram, nutricionista
A recente campanha anti-obesidade da Geórgia (EUA), com imagens e comentários duros, chocantes e estigmatizando crianças obesas, já foi muito criticada pela mídia internacional (http://www.washingtonpost.com/blogs/ezra-klein/post/georgias-shocking-anti-obesity-ad-campaign/2012/01/03/gIQAZB8HYP_blog.html). Ao mesmo tempo, ela foi elogiada por alguns como sendo uma resposta apropriada nesta situação de crise, especialmente na Geórgia, onde 70% dos pais não estão cientes da obesidade dos filhos ou de suas consequências futuras na saúde.
Paralelamente a isto, um recente estudo também nos EUA (http://www.med.umich.edu/mott/npch/)alerta que 30% dos pais entrevistados relatam comportamentos preocupantes tanto alimentares quanto em relação à atividade física dos filhos e que 7% admitem que os filhos se sentem mal na escola a respeito do que e do quanto eles estão comendo. Os problemas mais comuns relatados pelos pais incluem se preocupar com peso e imagem corporal, evitar doces ou “junk food” e apresentar um súbito interesse pelo vegetarianismo. Todos esses padrões de comportamento podem estar ligados ao desenvolvimento precoce de transtornos alimentares. Ainda neste estudo, 82% dos pais entrevistados relatam que houve pelo menos uma intervenção de prevenção de obesidade na escola de seus filhos (educação alimentar, medidas de peso e altura, limitar os doces ou “junk food”, incentivo para atividades físicas, dentre outras coisas).
Será que podemos concluir, diante dos fatos apresentados, que os programas escolares atuais de prevenção de obesidade podem provocar comportamentos alimentares preocupantes em crianças? Talvez não seja tão simples: o estudo mencionado acima limitou-se à análise de um dado só: a intervenção na escola, sem avaliar o meio ambiente da criança. Hoje praticamente não existe uma residência em que não haja alguém de dieta, ou alguém que se exercite demais, ou alguém que fale excessivamente sobre peso.
A verdade é que não existe consenso atualmente sobre a melhor maneira de enfrentar o problema da obesidade infantil. Mas já existem muitas pesquisas mostrando que esse tipo de abordagem (chocar ou dar medo) é prejudicial para crianças de todos os tamanhos e que devemos incentivar uma educação positiva, promovendo um estilo de vida mais saudável e uma vida feliz. Uma meta-análise recente mostra os benefícios dos programas de prevenção de obesidade quando bem executados, e a escola é um ambiente muito interessante para veicular uma educação nutricional adequada (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD001871.pub3/pdf/abstract). A prevenção funciona quando feita por profissionais bem treinados, tanto na escola quanto nas campanhas públicas. E isso é valido para prevenção tanto da obesidade infantil quanto dos transtornos alimentares.
E Aqui no Brasil?
O Ministério da Saúde anunciou que o tema de trabalho prioritário em 2012 será "Prevenção da obesidade na infância e na adolescência". Este ano, mais de 50 mil escolas em 2.500 municípios brasileiros se comprometeram a implementar metas e ações de promoção, prevenção, educação e avaliação das condições de saúde das crianças e adolescentes nas escolas (http://m.noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/2012/01/23/acao-contra-obesidade-infantil-vai-envolver-50-mil-escolas-anuncia-ministerio-da-saude.htm).
Ótimo! Mas será que consultaram os especialistas nessa questão? Ao meu conhecimento, não. Podemos ficar preocupados? Sim!
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