O corpo do atleta olímpico
Nutrição

O corpo do atleta olímpico


Foto: anéis olímpicos em Londres, sede dos Jogos Olímpicos de 2012, que terão início agora no mês de julho

Por Paula Costa Teixeira, educadora física

No mês das Olimpíadas, sugerimos uma reflexão sobre os atletas. Daqui a poucos dias, veremos imagens de diferentes corpos expostos em diversas modalidades esportivas. A era “High Definition TV” nos proporcionará um espetáculo de imagens de diferentes ângulos e velocidades para acompanharmos cada superação dos atletas olímpicos.

Considerando o contexto de insatisfação corporal generalizada, muitas pessoas podem olhar os corpos dos atletas e desejar um igual. Entretanto, precisamos refletir sobre o que o corpo do atleta nos fala e o quão saudável ele realmente é.

Um atleta olímpico treina horas e horas por dia porque esta é a exigência da sua profissão. Seu corpo é o instrumento de seu trabalho e tem por objetivo, a cada competição, dar o seu melhor e superar seus limites. Você já parou para imaginar o quanto um atleta se prepara para as Olimpíadas? Os Jogos Olímpicos acontecem a cada quatro anos, isso significa que são meses bem planejados de treinamento e dieta para dar conta também dos campeonatos nacionais e mundiais, que garantem a vaga olímpica.

O corpo de um atleta olímpico é o resultado de muitas horas de dedicação a um treinamento intenso, a fim de aprimorar capacidades físicas (por exemplo, força, flexibilidade, agilidade, coordenação) e habilidades motoras (correr, saltar, nadar, driblar, etc.) necessárias para executar com perfeição a modalidade esportiva na qual se especializou.

O senso comum tende a acreditar que o corpo de um atleta é saudável, mas nem tudo o que se vê é realmente o que parece ser. Em geral, os atletas costumam sofrer uma forte pressão para ter o corpo ideal a fim de facilitar o bom desempenho na sua modalidade esportiva. A pressão pode ser maior se o atleta não possui naturalmente o tipo físico ideal que a modalidade exige. Isso pode fazer com que o atleta utilize estratégias inadequadas para alcançar o tipo físico necessário. Em algumas modalidades, essas estratégias são até aceitas e estimuladas pela própria equipe (técnico, preparador físico, colegas de equipe). O perfeccionismo, uma característica muito comum nos atletas, pode levá-lo a tomar atitudes “não saudáveis” ao longo de sua carreira, tudo em prol da conquista de um bom patrocinador e do primeiro lugar no ranking.

Existem muitos relatos de atletas (e ex-atletas) que competiram lesionados, com muitas dores pelo corpo, e às vezes até enfraquecidos por terem que manter uma dieta inadequada para atingir um determinado peso corporal. Há modalidades esportivas em que o corpo magro e esbelto ganha destaque na hora de executar as habilidades. Podemos citar como exemplo as ginásticas artística e rítmica, ou ainda o ciclismo e hipismo, nos quais a leveza corporal também é um fator determinante.

A manutenção do peso corporal provavelmente é um dos maiores desafios para os atletas. Conquistar um corpo forte, com mais músculos e menos gordura é uma das suas maiores preocupações. Muitas vezes, fora da temporada de campeonatos, o atleta “relaxa” na sua dieta e ganha uns quilinhos. Quando se aproxima da temporada de treinos, se o peso desejado não é atingido, ele lança mão de estratégias perigosas como dietas muito restritivas, uso de laxantes, diuréticos, chás e substâncias que podem até atrapalhar seu desempenho.

Uma vez que já aprendemos que restrições alimentares predispõem a compulsões, os atletas necessitam de acompanhamento nutricional por toda sua vida profissional para não adotar comportamentos alimentares inadequados que, muitas vezes, são mascarados por serem vistos como “normais” no ambiente esportivo.

Ano passado foi publicado um estudo que comparou atletas de elite (e de diferentes modalidades) que receberam aconselhamento nutricional semanal e individualizado para manter uma composição corporal adequada com um grupo de atletas que comeram à vontade. A composição corporal foi avaliada antes, após 6 meses da intervenção, e novamente após 12 meses. O grupo de atletas que recebeu aconselhamento nutricional apresentou um ganho de massa magra de 4,3%, porcentagem significativamente maior em comparação ao grupo que comeu à vontade (ganho de 1,0% de massa magra). E na avaliação após 6 e 12 meses da intervenção o ganho de massa magra continuou a prevalecer no grupo que recebeu aconselhamento nutricional.

Este estudo chama atenção para a necessidade de discutirmos as atitudes alimentares que os atletas adotam para conquistar um corpo magro. O fato de ser magro não representa ter boa massa magra, pelo contrário, há indivíduos magros com altas porcentagens de gordura corporal, ossos enfraquecidos, colesterol alto e quadros de desidratação, situações que diminuem a performance atlética. Claro que não podemos esquecer da faixa etária e do gênero do atleta, adolescentes são diferentes de adultos que já possuem seus sistemas musculoesqueléticos totalmente formados, e homens funcionam completamente diferente das mulheres.

Uma alimentação com um bom equilíbrio dos nutrientes é sinônimo de energia adequada para a quantidade de treinamento ao qual o atleta é submetido. Comer bem e sem culpa é possível, basta saber fazer as escolhas adequadas.

Para saber mais:

1. Scoffier S, Maïano C, d'Arripe-Longueville F. The effects of social relationships and acceptance on disturbed eating attitudes in elite adolescent female athletes: the mediating role of physical self-perceptions. Int J Eat Disord. 2010 Jan;43(1):65-71.
2. Garthe I, Raastad T, Sundgot-Borgen. Long-term effect of nutritional counseling on desired gain in body mass and lean body mass in elite athletes. Appl. Physiol. Nutr. Metb. 2011; 36: 547-54.
3. Alvarenga M, Scagliusi FB, Philippi ST (Org.). Nutrição e Transtornos alimentares: avaliação e tratamento. Barueri: Manole, 2010.







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