Nutrição
Por Fernanda Pisciolaro, nutricionista
Toda semana recebo pacientes que vêm buscar ajuda para modificar seu corpo ou sua relação com a comida (embora tudo isso venha simplificado em: quero emagrecer; quero aprender a parar de comer chocolate; quero ser saudável; e/ou quero aumentar a massa muscular).
Toda semana escuto absurdos prescritos por outros profissionais (nutricionistas, médicos, educadores físicos, cabeleireiros, e acreditem, até mecânicos!!). Todos parecem ter achado a fórmula mágica para a obtenção de resultados infalíveis para o corpo e alimentação perfeitos.
Dietas esdrúxulas e bizarras, como as duas últimas que ouvi que incluíam suco de cebola e oração para o emagrecimento, e técnicas de “encorajamento” e motivação baseadas em apelidos pejorativos, como chamar o paciente de “toucinho” ou advertir para que não se consuma arroz e feijão juntos, uma vez que esses seriam irmãos e, portanto, seria incesto (???). E muito empenho em gerar uma campanha bem orquestrada para ressaltar culpas, pecados, defeitos e escolhas insalubres.
Mas, apesar de tanto absurdo, esse tema já tem sido comum e o assunto que tem me chamado a atenção recentemente é a alta incidência de pessoas que estão fazendo uso de anabolizantes e substâncias “obscuras” com o objetivo de aumentar a massa muscular e “secar” a gordura. E muitas delas prescritas por colegas profissionais da área da saúde.
A busca pelo nutricionista é para obter dietas rígidas e desbalanceadas, ricas em proteínas (em níveis perigosos) e suplementos e substitutos alimentares, e extremamente pobres em gordura (chegando ao ponto de serem lipofóbicas).
Para muitas delas, a busca por práticas esportivas de forma continua, focada apenas no controle corporal, com uma valorização praticamente religiosa e fanática e é muito frequentemente associada ao uso de derivados sintéticos da testosterona que possuem atividade anabólica, usados na forma de cremes, supositórios, cápsulas e injetáveis.
A venda dessas substâncias muitas vezes é fruto de contrabando e um problema nem sempre solucionado pelas autoridades competentes. Essa comercialização é feita em anúncios na internet com a venda de supostos produtos estrangeiros e/ou naturais que, na verdade, são produzidos em fábricas clandestinas no Brasil. Atualmente, foi criada a WADA (World Anti Doping Agency), que é uma entidade que agrega laboratórios, cientistas e médicos de vários países com o intuito de coletar e detectar novas substâncias ilícitas. Atualmente as substâncias mais vendidas são: nandrolona, durateston, stanozolol, GH (somatrofina), oximetolona, clembuterol, oxandrolona, mesterolona e boldenona.
Ignorando os riscos dessa prática alimentar, associada à excessos de exercícios e combinações de anabolizantes com uso indiscriminado, essas pessoas estão sujeitas a insônia, falta de apetite, irritabilidade, desinteresse sexual, fraqueza, cansaço constante, dificuldade de concentração, problemas físicos e estéticos, problemas ósseos e articulares, falta de agilidade e encurtamento de músculos e tendões, aumento do risco de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do tamanho dos testículos e maior propensão ao câncer da próstata, entre muitos outros ainda não catalogados.
Bom exemplo desse consumo irresponsável é o do famoso cantor baiano que permanece internado desde março pois sofreu rompimento muscular durante exercício, que não era compatível com nenhuma descrição na literatura. Na busca por explicações, fez-se tomografia e foi vista alteração no fígado. Após a biópsia, ele teve um sangramento muito atípico, que foi fortemente associada às prescrições de substâncias anabólicas (ele tomava cinco dessas substâncias ao mesmo tempo, que foram descritas como coquetel tóxico...) e que causaram um colapso hepático e em diversas outras partes do corpo, levando a coágulos e hemorragias incontroláveis. Dizem que assim que ele saiu do período crítico no hospital, os médicos já foram questionados sobre quando poderiam reintroduzir tais substâncias, a fim de que ele não “perdesse todos os músculos”...
Muito dessa atração e busca por milagres explica-se pelo mecanismo da sedução. “Sedução” vem de “sub ducere”, conduzir ou atrair por baixo: dominar a mente de um sujeito apelando às suas piores qualidades, às suas fraquezas, aos seus temores. Sobretudo à inveja, que acaba no sentimento de inferioridade que encontra alívio na contemplação de outras inferioridades reais ou imaginárias.
Sonho com o dia em que ser nutricionista voltará a ser associado ao prazer à mesa, à comer comida gostosa e que faz bem ao corpo e alma, à comer sem julgamentos e assim conquistar corpos reais e bonitos em suas diferenças.
Para saber mais:
MURRAY, S. B.; RIEGER, E.; TOUYZ, S. W. Muscle dysmorphia symptomatology during a period of religious fasting: a case report. Eur. Eat. Disorders Rev., 2010.
- Crítica
Por Fernanda Pisciolaro, nutricionista Quino, o cartunista argentino e criador da Mafalda, fez a charge acima mostrando sua desilusão com os valores passados às crianças no mundo atual. Um ponto que me assusta muito é o fato de ser uma charge que...
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- A Busca Pelo Corpo Ideal E O Uso Indiscriminado De Anabolizantes...
Como sabemos, cada vez mais vem aumentando a busca pelo corpo ideal, que na concepção da grande maioria, se caracteriza pelo baixo % de gordura e elevada massa muscular. Em resumo: a busca é por um CORPO ATLÉTICO (tanto por atletas e por NÃO ATLETAS),...
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Nutrição
NÃO PRECISAMOS DE HOMENS-BOMBA!
Por Fernanda Pisciolaro, nutricionista
Toda semana recebo pacientes que vêm buscar ajuda para modificar seu corpo ou sua relação com a comida (embora tudo isso venha simplificado em: quero emagrecer; quero aprender a parar de comer chocolate; quero ser saudável; e/ou quero aumentar a massa muscular).
Toda semana escuto absurdos prescritos por outros profissionais (nutricionistas, médicos, educadores físicos, cabeleireiros, e acreditem, até mecânicos!!). Todos parecem ter achado a fórmula mágica para a obtenção de resultados infalíveis para o corpo e alimentação perfeitos.
Dietas esdrúxulas e bizarras, como as duas últimas que ouvi que incluíam suco de cebola e oração para o emagrecimento, e técnicas de “encorajamento” e motivação baseadas em apelidos pejorativos, como chamar o paciente de “toucinho” ou advertir para que não se consuma arroz e feijão juntos, uma vez que esses seriam irmãos e, portanto, seria incesto (???). E muito empenho em gerar uma campanha bem orquestrada para ressaltar culpas, pecados, defeitos e escolhas insalubres.
Mas, apesar de tanto absurdo, esse tema já tem sido comum e o assunto que tem me chamado a atenção recentemente é a alta incidência de pessoas que estão fazendo uso de anabolizantes e substâncias “obscuras” com o objetivo de aumentar a massa muscular e “secar” a gordura. E muitas delas prescritas por colegas profissionais da área da saúde.
A busca pelo nutricionista é para obter dietas rígidas e desbalanceadas, ricas em proteínas (em níveis perigosos) e suplementos e substitutos alimentares, e extremamente pobres em gordura (chegando ao ponto de serem lipofóbicas).
Para muitas delas, a busca por práticas esportivas de forma continua, focada apenas no controle corporal, com uma valorização praticamente religiosa e fanática e é muito frequentemente associada ao uso de derivados sintéticos da testosterona que possuem atividade anabólica, usados na forma de cremes, supositórios, cápsulas e injetáveis.
A venda dessas substâncias muitas vezes é fruto de contrabando e um problema nem sempre solucionado pelas autoridades competentes. Essa comercialização é feita em anúncios na internet com a venda de supostos produtos estrangeiros e/ou naturais que, na verdade, são produzidos em fábricas clandestinas no Brasil. Atualmente, foi criada a WADA (World Anti Doping Agency), que é uma entidade que agrega laboratórios, cientistas e médicos de vários países com o intuito de coletar e detectar novas substâncias ilícitas. Atualmente as substâncias mais vendidas são: nandrolona, durateston, stanozolol, GH (somatrofina), oximetolona, clembuterol, oxandrolona, mesterolona e boldenona.
Ignorando os riscos dessa prática alimentar, associada à excessos de exercícios e combinações de anabolizantes com uso indiscriminado, essas pessoas estão sujeitas a insônia, falta de apetite, irritabilidade, desinteresse sexual, fraqueza, cansaço constante, dificuldade de concentração, problemas físicos e estéticos, problemas ósseos e articulares, falta de agilidade e encurtamento de músculos e tendões, aumento do risco de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do tamanho dos testículos e maior propensão ao câncer da próstata, entre muitos outros ainda não catalogados.
Bom exemplo desse consumo irresponsável é o do famoso cantor baiano que permanece internado desde março pois sofreu rompimento muscular durante exercício, que não era compatível com nenhuma descrição na literatura. Na busca por explicações, fez-se tomografia e foi vista alteração no fígado. Após a biópsia, ele teve um sangramento muito atípico, que foi fortemente associada às prescrições de substâncias anabólicas (ele tomava cinco dessas substâncias ao mesmo tempo, que foram descritas como coquetel tóxico...) e que causaram um colapso hepático e em diversas outras partes do corpo, levando a coágulos e hemorragias incontroláveis. Dizem que assim que ele saiu do período crítico no hospital, os médicos já foram questionados sobre quando poderiam reintroduzir tais substâncias, a fim de que ele não “perdesse todos os músculos”...
Muito dessa atração e busca por milagres explica-se pelo mecanismo da sedução. “Sedução” vem de “sub ducere”, conduzir ou atrair por baixo: dominar a mente de um sujeito apelando às suas piores qualidades, às suas fraquezas, aos seus temores. Sobretudo à inveja, que acaba no sentimento de inferioridade que encontra alívio na contemplação de outras inferioridades reais ou imaginárias.
Sonho com o dia em que ser nutricionista voltará a ser associado ao prazer à mesa, à comer comida gostosa e que faz bem ao corpo e alma, à comer sem julgamentos e assim conquistar corpos reais e bonitos em suas diferenças.
Para saber mais:
MURRAY, S. B.; RIEGER, E.; TOUYZ, S. W. Muscle dysmorphia symptomatology during a period of religious fasting: a case report. Eur. Eat. Disorders Rev., 2010.
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