Fenproporex: sem evidências
Nutrição

Fenproporex: sem evidências



Por Marle Alvarenga, nutricionista 

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz publicaram na Revista de Saúde Pública – uma das publicações científicas mais importantes do país – uma revisão sistemática sobre uso de fenproporex (um tipo de anfetamina) no tratamento da obesidade1. A duração dos estudos foi de 40 a 364 dias.

Encontrou-se que houve maior perda de peso entre pacientes tratados com fenproporex em todos os estudos controlados - comparados aos que receberam placebo -, mas o efeito foi modesto: a droga causou reduções adicionais de peso de 4,7kg (após um ano), 3,8kg (após seis meses) e 1,55kg (após dois meses), em média, em relação à dieta e exercício apenas (três ensaios). Insônia, irritabilidade e ansiedade foram os eventos colaterais mais frequentes.  

Os autores apontam que há escassez de ensaios clínicos placebo-controlado e que os estudos controlados apresentam importantes falhas metodológicas, sendo insuficientes para avaliar o perfil risco-benefício do fenproporex. De qualquer forma, estes estudos não fornecem evidências de que o fenproporex atenua a morbidade e mortalidade associada à obesidade, e há preocupação com potencial de abuso e efeitos adversos.

Esta revisão traz à tona a discussão calorosa em torno do uso de anorexígenos. Estes foram proibidos pela ANVISA Resolução RDC n° 52, de 6 de outubro de 2011 depois de muita cobrança de órgãos reguladores em saúde sobre o Brasil ter sido, durante muito tempo, um dos maiores consumidores destas drogas. Mesmo sem evidências adequadas de segurança e eficácia, o Senado Federal aprovou o Projeto de Decreto Legislativo (SF), n° 52/2014 que sustou a resolução da ANVISA – e que se encontra em tramitação. 

O CFN se manifestou com apoio a ANVISA/MS “na proposição em que o retorno desses produtos para o mercado esteja condicionado à apresentação de dados, pelas empresas, que comprovem segurança e eficácia”. Também afirmando que “para o tratamento da obesidade devem ser adotados o acompanhamento nutricional, psicológico, médico e de atividades físicas, que resultam em hábitos alimentares saudáveis e mudanças no estilo de vida, o que proporciona perda de peso de forma saudável e progressiva.  Medicamentos que coloquem em risco a saúde do paciente não devem ser utilizados, principalmente quando sua segurança e eficácia não estão devidamente comprovadas” (http://www.cfn.org.br/index.php/legacy-1975/).

Não acreditamos que nosso Senado, que infelizmente no momento atual mal dá conta das questões políticas do país, seja órgão competente para legislar sobre drogas.

Da mesma maneira que sempre destacamos para as dietas de emagrecimento, vale pensar que quanto aos anorexígenos, o Brasil esteve entre os maiores usuários e não tivemos nenhum resultado favorável sobre controle ou reversão da prevalência de obesidade.

Defendemos como sempre, que o foco sejam os comportamentos dos indivíduos na busca da saúde, e jamais qualquer tratamento (seja ele droga ou dieta), que podem não ter nenhum resultado favorável, e pior, trazer danos.

Referência:
1) PAUMGARTTEN FJR, PEREIRA SSTC, OLIVEIRA ACAX. Safety and efficacy of fenproporex for obesity treatment: a systematic review. Rev. Saúde Pública,  São Paulo,  v. 50,  25,    2016.   Disponível em< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102016000100503&lng=pt&nrm=iso>. Epub 24-Maio-2016.  http://dx.doi.org/10.1590/S1518-8787.2016050006208.



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