O nutricionista que eu queria ser
Nutrição

O nutricionista que eu queria ser




Por maria Luiza Petty, nutricionista 

Quando eu era criança, tinha uma ideia de que as frutas faziam muito bem para saúde. Muitas vezes, quando eu as comia, tinha uma sensação de que elas estavam me purificando e me enchendo de vitalidade.

Uns bons anos mais pra frente, chega a hora de escolher uma carreira universitária e eu tinha alguns interesses bem claros: eu adorava geografia e geopolítica, adorava a ideia de ajudar os outros e carregava esta “crença” de que alguns alimentos teriam capacidades sanitárias. Na minha cabeça, a nutrição seria então a resposta ao dilema “o que eu quero ser quando crescer”.

Lembro-me que fiz uma visita guiada à Faculdade de Saúde Pública da USP, onde o curso de nutrição é ministrado, e logo fui dizendo que eu adorava geografia, me interessava pela área da saúde e que eu imaginava que a graduação teria tudo a ver com isso. A monitora da visita, que era aluna do curso, me olhou com uma cara estranha e disse “acho que não tem muito a ver não, aqui não tem nada de geografia ou geopolítica”. Apesar do balde de água fria, ao final da visita eu recebi um livreto com a grade curricular e nela havia um monte de disciplinas em que eu continuava  vendo esta tal relação e enxergava um grande potencial de ajudar as pessoas por meio de alimentos tão maravilhosos, como as frutas, por exemplo.

Quando eu decidi ser nutricionista, no finalzinho do século 20, o Brasil ainda era um país onde havia bastante desnutrição, um pouco de excesso de peso, mas, sobretudo, muito menos informações sobre alimentação e saúde em todos os meios de comunicação. De lá pra cá, vivenciamos o pico da revolução epidemiológica, conhecida como transição nutricional, acompanhada por uma enorme expansão da indústria de alimentos e do contingente de nutricionistas.

Em meio a todas estas mudanças, o nutricionista passou a “ter”* que policiar para que as pessoas não comam demais, especialmente os alimentos gostosos. E aquela ideia de que eu seria um profissional que ajudaria as pessoas começou a ser abalada quando um dia, coletando dados para meu mestrado em uma escola de São Paulo, um aluno dá a seguinte resposta quando perguntado sobre o que faz um nutricionista: “nutricionista é uma mulher chata que diz que tudo o que a gente gosta, não pode comer”.

Felizmente, hoje eu consigo enxergar  que sou uma profissional que ajuda as pessoas a comerem melhor, mas acreditem, hoje meu principal trabalho não é incentivar que elas comam os tais alimentos mágicos, como as frutas. Hoje, muito do meu trabalho é focado para que as pessoas tenham paz na hora de comer, que elas possam comer as comidas que mais amam e que não precisem só comer frutas para purificar o corpo.

Bom, este não era bem o nutricionista que eu inicialmente queria ser, mas acho que pelo menos no quesito “ajudar os outros”, venho cumprindo meu papel tentando diminuir o medo e o sofrimento das pessoas de comerem outras coisas, além das frutas. Quanto à geografia, tive que deixar de lado, mas continuo tendo a certeza de que tem absolutamente tudo a ver com nutrição.

* O nutricionista não tem que policiar o que as pessoas comem, mas muitas vezes o faz por falta de outros recursos para promover uma alimentação saudável, prazerosa e equilibrada.



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